Aluna cotista perde vaga de medicina por não ser considerada parda

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Aprovada em Medicina na UFF em 2024, Samille Ornelas, 31, ex-aluna de escola pública e autodeclarada parda, teve a matrícula negada após a universidade alegar que ela não apresentava “características fenotípicas” exigidas para cotas. Após um ano, conseguiu liminar para ingressar no curso em 2025, mas a decisão foi revogada neste semestre, quando restavam apenas duas provas para concluir o período.

“Minha vida está destruída por causa de um vídeo de 17 segundos. Ninguém me viu para dizer se sou parda”, afirmou ao g1. A estudante relata ter ficado abalada: “Sempre sinto que alguém vai olhar e dizer: ‘Você não é, é impostora’”.

A UFF ainda não se manifestou. Samille já havia cursado Biomedicina pelo Prouni, também via cotas. No Sisu, ela enviou vídeo conforme exigido para autodeclaração, mas foi considerada inapta pelo comitê da universidade. Mesmo com recurso e provas adicionais, a decisão foi mantida. Após obter liminar na Justiça, mudou-se de Belo Horizonte ao Rio de Janeiro três dias após perder o pai. Em junho, a liminar foi cassada.

Comitês de heteroidentificação avaliam apenas a aparência física — não a origem ou vivência — para confirmar a autodeclaração de raça. A análise pode ser presencial ou remota. Segundo portaria federal, apenas critérios fenotípicos devem ser considerados.

Samille passou por laudo antropológico para tentar reverter a decisão judicial, mas sem sucesso. Ainda acredita na política de cotas, mas aponta falhas no processo: “Só queria que admitissem que erraram”. O caso segue na Justiça. Enquanto isso, ela voltou a estudar para o Enem.

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