A artista alagoana Geovana Clea levou à Galeria Hugo França, em Trancoso (BA), uma das exposições mais sensíveis e poéticas de sua trajetória: a mostra “Sertões”. Dentro dela, a série Flores do Sertão se destaca como um tributo afetivo e visual às mulheres que marcaram sua infância em Inhapi, no alto sertão de Alagoas.
Radicada na Itália há mais de duas décadas, Geovana construiu uma carreira internacional sólida, com passagens por Veneza, Milão, Roma, Nova York e Dubai. No entanto, foi no reencontro com suas origens que ela encontrou a matéria e a memória que moldam sua nova fase artística. Em Trancoso, ela apresentou 26 obras inéditas feitas com diferentes tipos de barro brasileiro — colhidos pessoalmente por ela em locais de forte valor simbólico, como a terra vermelha da Promissão, o barro escuro da Ilha do Ferro e a terra preta de Inhapi.
Na série Flores do Sertão, Geovana utiliza o barro natural tingido com pigmentos florais para construir texturas que evocam tanto o chão rachado quanto a delicadeza da vida que brota da aridez. Tons de vermelho, ocre, lilás, rosa e verde seco dão forma a uma galeria de memórias nomeadas: Emanuela, Ieda, Dona Neta, Ângela Maria, Cida, Guega, Rosa, Flora, Dolores e Deusdedith. Cada nome corresponde a uma mulher real, figuras que fizeram parte do cotidiano da artista — vizinhas, tias, a avó paterna — e que, agora, florescem na parede como símbolos de resistência, afeto e permanência.
As obras dialogam não apenas com a história pessoal de Geovana, mas com o imaginário coletivo do sertão. Algumas delas também fazem referência a flores como o Flamboyant, a Bougainville e a Flor da Mangueira, compondo uma narrativa onde o barro ganha cor, memória e poesia. A proposta, segundo a artista, é transformar o solo duro da infância em um campo fértil de lembranças e homenagens.